Muito se fala sobre os treinamentos funcionais. De um tempo para cá, virou moda fazer atividades físicas mais dinâmicas, como uma fuga da velha e conhecida academia, fechada e cheia de aparelhos. A partir dessa necessidade de mudança, agachar, correr, pular, saltar, girar, puxar, ou seja, praticar com excelência os movimentos naturais do dia a dia, passaram a ser a fórmula para alcançar o corpo desejado.
O treinamento funcional, porém, vai além da beleza e se firma como mais do que um exercício. É um plano de qualidade de vida. O motivo é simples. Não dá para ficar sentindo dor ao agachar-se para pegar o filho no colo, ou desconforto no tornozelo não pode ser desculpa para cancelar aquela caminhada diária. E se a vontade e o prazer é correr atrás de um corpão, com foco no ganho de massa magra, isso também precisa ser feito com a segurança de que nada de errado acontecerá durante o percurso, como as tradicionais lesões em joelhos, ombros e lombares.
Há oito anos no ramo, a fisioterapeuta Hellen Goulart Martins Cacau, 36 anos, trabalha com a prevenção de lesões já no começo dos treinos, quando o aluno passa antes por um aquecimento, até chegar na parte de mobilidade e trabalho de articulações. Na sala, aparentemente pequena, mas bem equipada, treinam até nove pessoas ao mesmo tempo. Cerca de dois alunos por professor, o que torna a atividade personalizada.
“É um treino diferenciado, em que procuramos saber dos objetivos do aluno, mas sempre buscamos isso sabendo das limitações dele. Cerca de 80% do meu público têm uma dor na lombar, uma hérnia ou um problema no joelho. O funcional veio para trazer de volta a qualidade do dia a dia dessas pessoas. Um senhor que está comigo não quer emagrecer, ter bumbum na nuca, um bíceps largo. Ele quer apenas voltar a pegar no volante do carro e dirigir. Uma coisa simples, mas que ficou limitada após um AVC”, conta Hellen.
A funcionária pública aposentada Delma Ribeiro de Matos, 51 anos, treina, mas chegou ao funcional por um outro motivo: o sobrinho Fábio, 39. Com 1 ano de idade, Fabinho teve uma febre alta que ocasionou uma convulsão. Depois do episódio, as crises ficaram recorrentes. Resultado, um retardo mental. O rapaz não é totalmente incapacitante, mas precisa de cuidados, principalmente, com as taxas corporais e o peso.
“Ele está curvado, com a barriga saliente. Chegou a fazer natação, hidroginástica, mas não se adaptava aos exercícios. Descobrimos o treinamento funcional e ele se adaptou muito bem. Ele é introvertido, medroso, inseguro, mas lá se solta, extravasa a energia, e isso melhora a saúde dele”, comenta a tia.
Delma aproveitou para tratar um desgaste ósseo no quadril. A dor é antiga, começou há cerca de 10 anos, mas as consequências começaram a dar a cara agora. “Sinto que está piorando, irradiando para a perna e a lombar. Depois de não ver melhora com outras atividades, o treino funcional foi o caminho ideal para fortalecer meu corpo. Antes, sentia dor só de ficar em pé. Quando andava muito, também doía. Estou com 51 anos e pensando no futuro, em envelhecer com mais qualidade de vida. Penso no amanhã, em viver bem, não em ficar com um corpo perfeito”, pondera Delma, que se exercita três por semana, ao lado do sobrinho.
Com um propósito
O treinamento funcional é bastante focado no chamado core, o centro de força do corpo, a partir do cinturão de musculatura abdominal. Na sua origem, segue um padrão sequencial, segundo o professor de educação física Gustavo Schlottfeldt Brandão, 38. Primeiro trabalha a função do corpo, em seguida a parte muscular, para, só depois, chegar à estética. “Estar com as funções do corpo em dia, saber o que pode e o que não pode é o maior foco”, explica Gustavo, que deixou uma carreira de 13 anos dentro das salas de musculação para se dedicar ao funcional.
Um dos principais mitos que Gustavo faz questão de esclarecer é a afirmação de que treinamento funcional é para velho e não é pesado, ou seja, não cansa e só é bom ser praticado se o aluno não puder fazer outra coisa. “Ele nada mais é do que um treino com propósito. Quer pedalar ou correr? O seu corpo será preparado para fazer isso. O funcional deixará ele na melhor forma para que alcance o objetivo, porque se as funções do corpo não estiverem boas, não funciona”, frisa.
O aposentado Silvano Thees, 84, sabe bem disso. Após se desequilibrar ao descer de uma escada, quebrou o calcanhar. Segundo ele, na verdade, “esfacelou” o osso do pé. Oito pinos, seis meses na cadeira de rodas e uma recuperação à base de treinamento funcional. “Tentei a academia, mas tinha falta de equilíbrio, dificuldade de mobilidade. Graças ao exercício, consegui melhorar, caminhar. Hoje, faço todas as minhas coisas, vou ao supermercado e executo as outras demandas do dia a dia. Quero comemorar meus 100 anos em Paris”, festeja.
Quarenta e um anos mais jovem que Silvano, Fabianny Fernandes Simões Strauss, apesar da jovialidade, também deixou a estética para último plano. Ex-atleta de vôlei, a coach de carreira e alta performance sente no corpo os reflexos dos vários anos de esporte. Uma dorzinha no ombro, no joelho, no pulso. Nada limitante. Mesmo assim, Fabianny investe na prevenção. “Quero a segurança de não ter lesão. Hoje, não me saboto mais. Quero conhecer meu corpo, meus limites, principalmente, porque quero pedalar e correr. Estou em busca do equilíbrio do core, como uma forma e sustentar a coluna. Com o funcional, tenho segurança para alcançar isso”, resume.
Calistenia
- Você sabia que por trás do treinamento funcional está uma técnica de nome bem estranho? Calistenia é o nome dado às atividades que usam apenas o peso do próprio corpo como carga. Além do funcional, os princípios da calistenia estão incorporados no crossfit e no street workout (treino de rua, em tradução livre) — atividades muito comuns nos Estados Unidos, quando o praticante usa o peso do próprio corpo para executar exercícios em barras fixas, paralelas e no solo.
Treino personalizado
- Alguns estúdios de treinamento funcional oferecem o Functional Movement Screen (FMS), um sistema de avaliação com ranking e pontuação, que inclui sete testes dos padrões de movimento básico, em que limitações e/ou assimetrias musculares são identificadas. O objetivo é saber o que o aluno pode ou não fazer nos treinos. O professor só prescreverá os exercícios após saber o máximo que pode exigir de uma aluno e quando pegar leve. Tudo para evitar qualquer tipo de lesão.
Alguns benefícios
- Equilíbrio
- Flexibilidade
- Condicionamento
- Resistência
- Agilidade
Fonte: Correio Brazilience.
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