Nove entre dez nutricionistas proíbem o consumo de refrigerantes – mesmo as versões zero, diet e light. Mas quais são as razões que levam os especialistas a riscarem a bebida do cardápio de seus pacientes?
Pedimos ao nutricionista Clayton Camargos, especialista em envelhecimento e pós-graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ), para falar sobre o tema essa semana.
Ele elencou cinco motivos para que as pessoas pensem duas vezes antes de ingerir a bebida. “Se você não conseguir cessar totalmente a utilização dessas bebidas, o que seria ideal, os estudos sugerem que seu consumo mínimo não deve ultrapassar 300 ml por semana”, afirma o nutricionista.
Veja a lista preparada por ele:
- Acúmulo de gordura:
Pesquisadores concluíram que beber refrigerante pode levar à deposição importante de gordura no fígado, também conhecida como esteatose hepática não alcóolica, contribuindo para resistência à insulina e ao diabetes. As investigações ainda revelaram que consumidores diários de refrigerantes não dietéticos, durante um período de 06 meses, tiveram um aumento de 132 a 142% de gordura hepática, e uma elevação de 30% de triglicerídeos e 11% do colesterol total, em comparação com as pessoas que bebiam outras bebidas, como água ou leite.
- Barriga de refrigerante:
Não é de espantar que beber refrigerantes causa ganho de peso, mas o fato surpreendente é que mesmo as versões dietéticas também contribuem para o aumento ponderal: cientistas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, EUA, monitoraram 475 adultos por 10 anos, e descobriram que aqueles que bebiam 01 refrigerante dietético de 350 ml por dia tiveram um aumento de 70% na circunferência abdominal comparados aos indivíduos que não ingeriram nenhum tipo dessas bebidas. Aqueles que beberam mais de 02 refrigerantes dietéticos (700 ml) por dia tiveram um incremento de 500% do perímetro da cintura. Outra pesquisa, com ratos, sugeriu que o aspartame elevou os níveis de glicose no sangue, repercutindo no aumento de peso. Quando o fígado metaboliza muita glicose, o excesso é convertido em gordura corporal, especialmente do tipo visceral.
- Corantes caramelos podem causar câncer:
Outras explorações apontam para proibição de corantes artificiais de caramelo, usados na produção dos refrigerantes do tipo cola. O motivo: dois contaminantes na coloração, 2-metilimidazol e 4-metilimidazol, que causaram câncer nos animais pesquisados, considera-se esse tipo de coloração puramente cosmética. De acordo com a “Proposition 65” da Califórnia, EUA, que trata de uma lista de substâncias químicas produtoras de câncer, apenas 16 microgramas por dia de 4-metilimidazol são suficientes para representar risco dessa doença, e os corantes caramelos presentes nos mais populares refrigerantes colas contém 200 microgramas por unidade comercial de 01 Lt.
- Envelhecimento acelerado:
Dietéticos ou tradicionais, a maioria dos refrigerantes tem fosfato, ou ácido fosfórico, um ácido fraco que confere sabor e aumenta a vida útil dessas bebidas. Embora esteja presente também em diversos alimentos ultra processados comumente consumidos, como embutidos e produtos lácteos, o excesso de ácido fosfórico pode levar a problemas cardíacos e renais, redução da massa muscular e osteoporose. Com efeito, pesquisas sugerem que poderiam desencadear aceleração do envelhecimento celular. Outro estudo, também com ratos de laboratório, evidenciou que os níveis excessivos de fosfato encontrados nos refrigerantes anteciparam a morte desses animais em cinco semanas quando comparados aos consumidores de dietas com níveis normais de fosfato. Esse é um dado preocupante, uma vez que nas últimas décadas os fabricantes de refrigerantes têm aumentado as concentrações dessas substâncias em seus produtos.
- Comprometimento hormonal:
Não é apenas a composição dos refrigerantes que causa problemas; quase todas suas embalagens de alumínio são revestidas com uma resina epóxi chamada bisfenol, usada para evitar que os ácidos contidos nos refrigerantes reajam com o metal. O bisfenol é conhecido por interferir na regulação hormonal, sobretudo nos hormônios sexuais, e tem sido associado desde a infertilidade até obesidade e diabetes, além de algumas formas de cânceres do aparelhos reprodutivo.
De toda sorte, se não conseguir cessar totalmente a utilização dessas bebidas, o que seria ideal, estudos sugerem que seu consumo mínimo não deve ultrapassar 300 ml por semana. Entretanto, esses dados de pesquisas são compreendidos como precoces, e não concluem que a ingestão dessa quantidade possa ser segura para saúde humana.
Fonte: Estadão.
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